A morte de Ana Clara Ribeiro Santos, de apenas 17 anos, após passar mal durante atividades físicas em Livramento de Nossa Senhora, não é apenas uma tragédia pessoal — é um sinal de alerta que ecoa cada vez mais alto em nossa sociedade. Jovens, aparentemente saudáveis, estão morrendo de forma súbita. E a pergunta que muitos fazem é: por quê?
A medicina aponta causas silenciosas, muitas vezes invisíveis. Entre elas:
- Cardiomiopatia hipertrófica: uma condição genética que afeta o músculo do coração e pode causar arritmias fatais, especialmente durante esforço físico.
- Miocardite: inflamação do coração, que pode ser causada por infecções virais e, em alguns casos, por reações autoimunes.
- Síndrome do QT longo e outras arritmias hereditárias: distúrbios elétricos do coração que podem levar à parada cardíaca sem aviso.
Essas doenças raramente dão sinais claros. E quando dão — como tontura, palpitações ou desmaios — são frequentemente ignoradas ou atribuídas ao cansaço.
Existe uma crença social de que jovens são “à prova de tudo”. Mas essa ideia pode ser perigosa. Muitos adolescentes enfrentam rotinas exaustivas, pressão emocional, alimentação desequilibrada e falta de acompanhamento médico. A ausência de exames preventivos, como eletrocardiogramas e avaliações cardiológicas em escolas e academias, contribui para que essas condições passem despercebidas.
Além disso, locais públicos de lazer raramente contam com desfibriladores externos automáticos (DEA), que poderiam salvar vidas em casos de parada cardíaca.
Embora a morte súbita em jovens seja estatisticamente menos comum do que em adultos, ela representa cerca de 10% das mortes cardíacas em pessoas com menos de 35 anos, segundo estudos internacionais. No Brasil, ainda há carência de dados consolidados, mas especialistas alertam para o crescimento de casos — especialmente após a pandemia, que deixou sequelas cardíacas em muitos jovens.
A partida de Ana Clara deixa uma ferida profunda em Livramento. Mas também pode ser um ponto de partida para uma conversa urgente: precisamos cuidar melhor da saúde dos nossos jovens. Isso inclui educação sobre sinais de alerta, exames preventivos acessíveis, estrutura médica em locais públicos e, acima de tudo, escuta.
Que a memória de Ana Clara inspire mudanças. Que cada jovem seja visto não apenas como forte, mas como alguém que merece cuidado, atenção e proteção.