Apesar de seu cenário pacato e acolhedor, a cidade de Jussiape, situada na Chapada Diamantina (BA), já foi palco de tragédias que abalaram profundamente sua população. Três casos, em especial, permanecem vivos na memória coletiva por sua gravidade, complexidade e impacto social.
O assassinato do prefeito Procópio Alencar (2012)
Em 24 de novembro de 2012, a rotina da cidade foi interrompida por um crime brutal: o prefeito reeleito Procópio Alencar, sua esposa Jandira, e o gerente da Embasa, Oderlange Novaes, foram assassinados por um comerciante local conhecido como Claudionor “Cocó” Galvão de Oliveira.
O ataque ocorreu no consultório do prefeito, e o autor dos disparos foi morto em confronto com a polícia horas depois. O triplo homicídio ganhou repercussão nacional e revelou a tensão existente em disputas políticas locais. O velório contou com a presença do então governador Jaques Wagner, e até hoje o caso é lembrado como o episódio mais sangrento da história da cidade.
Menor é suspeita de matar a mãe e atacar o pai e a madrasta (2016)
Em agosto de 2016, uma adolescente de 14 anos chocou a região ao ser suspeita de cometer uma série de ataques violentos. Segundo investigações, a jovem ateou fogo no pai e na madrasta enquanto eles dormiam, provocando ferimentos graves.
Após o ataque, fugiu para uma área de mata no povoado de Paixão, onde teria encontrado a mãe biológica, Adriana Santos Almeida. O reencontro terminou em tragédia: em meio a uma luta corporal, a mãe foi morta a pedradas pela filha.
A adolescente foi localizada e apreendida pela polícia. O caso levantou discussões sobre violência familiar, saúde mental e acompanhamento psicológico de menores em áreas de vulnerabilidade.

Tentativa de ataque em escola estadual (2023)
Mais recentemente, em abril de 2023, a segurança escolar tornou-se pauta urgente em Jussiape após um estudante ser apreendido nas imediações do Colégio Estadual Horácio de Matos. Ele carregava um canivete automático e havia publicado mensagens de ódio contra colegas.
O jovem foi interceptado antes de entrar na reunião de pais e professores, evitando o pior. O episódio relembrou um caso anterior, de 2015, quando outro aluno invadiu o mesmo colégio com um facão e feriu o porteiro.
Ex-vereador é preso por estupro, roubo e falsidade ideológica em São Paulo (2017)
O ex-vereador de Jussiape Adson Muniz Santos, eleito em 2012 pelo PRB, foi preso em outubro de 2017 na capital paulista, acusado de uma série de crimes contra mulheres. Segundo as investigações da 1ª Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), ele se passava por policial federal e produtor de TV para abordar vítimas em bairros nobres como os Jardins.
Adson utilizava crachás falsos, uma carteira da Justiça Federal e até uma arma de brinquedo para intimidar mulheres. Em uma das abordagens, ele interceptou uma motorista em frente a um supermercado, mostrou um distintivo falso e a obrigou a parar. Com o cartão da vítima, fez um saque de R$ 1 mil e, em seguida, a estuprou. Em outro caso, prometeu levar uma mulher para testes na TV Globo, usando um crachá falso de diretor de produção, e a levou a um hotel onde cometeu o abuso.
A polícia acredita que ele agia desde 2012, abordando mulheres em aeroportos, clubes, bancos e supermercados, sempre buscando vítimas com perfil social elevado. Após sua prisão, 21 mulheres o reconheceram como autor dos crimes. A delegada Cristine Nascimento Guedes Costa o classificou como um “predador sexual”, destacando o padrão manipulador e violento de suas ações.
Em 2019, Adson foi condenado pela Justiça de São Paulo a 59 anos e oito meses de prisão, em regime fechado. A sentença incluiu nove condenações por estupro, além de roubo, extorsão, sequestro, importunação sexual, ameaça e falsidade ideológica. Ele negou os crimes, alegando que os atos sexuais foram consentidos, mas as provas e os depoimentos das vítimas sustentaram a condenação.
Além de sua atuação como vereador, Adson tentou se eleger deputado federal em 2014, sem sucesso, e chegou a ocupar o cargo de presidente do PRB em Jussiape. O caso gerou indignação na cidade e levantou discussões sobre a responsabilidade ética de representantes públicos e a importância da proteção às vítimas de violência sexual.
Esses acontecimentos expõem os desafios enfrentados por escolas na prevenção à violência e evidenciam a necessidade de políticas públicas voltadas para acolhimento emocional e ações de segurança.
🌧️ Uma cidade que busca se curar
Os três casos citados marcaram não apenas os boletins policiais, mas a identidade de Jussiape. Eles mostram como o interior também enfrenta dilemas complexos envolvendo política, família, educação e saúde mental. Para além da dor, fica a esperança de que o diálogo entre instituições e comunidade possa transformar essa história — não com medo, mas com prevenção e empatia.